quinta-feira, 2 de junho de 2016

As velhas ruas do centro velho: a “Rua dos Paus Grandes”

“[...] a cidade tornou-se em minhas mãos um livro, no qual eu lançava ainda rapidamente alguns olhares, antes que ele me desaparecesse dos olhos no baú do depósito por quem sabe quanto tempo. (Walter Benjamin)




Isso mesmo, “Rua dos Paus Grandes”. Assim era conhecida a Rua João Alves de Oliveira, no centro de Campina, nos tempos em que as cidades denominavam as suas ruas com nomes pitorescos, muitos deles românticos, ligados às características culturais, aos costumes e tradições destes lugares de convivência. Balzac, por exemplo, dizia que “as ruas de Paris nos dão impressões humanas” e assim parecem todas as ruas. Campina Grande, a seu modo e do seu jeito, foi humanizando as suas, dando vida a todas elas.  E assim nasceu o “Beco dos Bêbados”, a “Rua Grande”, a “Rua das Barrocas”, a “Rua do Meio” a “Rua do Emboca”, o “Beco do Atoleiro” a “Rua dos Armazéns” a “Rua do Rói Couro” e, claro, a “Rua dos Paus Grandes” e tantas outras que acabaram caindo no esquecimento veloz da modernidade.






Mas agora, como um flâneur que anda, que vadia pela cidade a fim de experimentá-la (era assim que Baudelaire entendia o termo) vamos andar um pouco e despretensiosamente pela “João Alves de Oliveira”. Ela nasce bem no centro da cidade, na confluência com a Rua Cardoso Vieira, bem em frente à Praça Lauritzen, onde se localiza a Rodoviária Velha. Daí vai descendo lentamente e no caminho encontra a Rua Cavalcante Belo (o Beco dos Bêbados). Mais embaixo cruza com a Rua João Leôncio e com a Rua Raimundo Alves da Silva e vai desembocar no famoso Ponto de Cem Reis, em plena Rua Vigolvino Vanderlei, ali nas imediações, nos limites dos bairros da Conceição e do Alto Branco.

Outrora a João Alves de Oliveira era uma rua tipicamente residencial. Um casario antigo se ajustava ao longo da ladeira, trepando aqui e ali por toda a sua extensão. Casas simples e conjugadas conviviam lado a lado com residências mais sofisticadas, deixando clara as distinções sociais que marcavam este espaço. O comércio era pequeno e se concentrava nos lugares em que a rua tocava o centro da cidade. Hoje, a rua mudou muito. Ganhou asfalto, parte do casario antigo foi posto abaixo para a construção de prédios ou de residências novas; ou simplesmente reformaram as antigas casas, transformando-as em caixotes de cerâmica e gosto duvidoso. O comércio, por sua vez, se ampliou por seu leito e o centro comercial jogou pressão sobre a rua. A conseqüência foi a transformação da pacata rua em uma artéria nervosa, de transito intenso, barulhento e poluído. Mesmo assim, numa espécie de resistência, alguns moradores continuam por lá, morando nas mesmas casas, muito embora alguns as tenham alterado profundamente. Os resistentes tendem agora a ocupar os espaços da rua não tomados pelo comércio, distribuindo-se principalmente entre o “Beco dos Bêbados” e o Ponto de Cem Reis.









Eu tenho uma relação afetiva e sentimental com essa rua. Foi por ela que, em 1975, recém chegado de Sapé para morar na cidade, tive acesso pela primeira vez ao centro de Campina Grande. Quando cheguei aqui na Serra, com apenas 10 anos de idade, fomos morar no início da Rua Dr. Vasconcelos, no comecinho da rodovia Anel do Brejo, bem perto do ponto de Cem Reis. Depois de por a casa em ordem, saímos todos a pé em direção ao centro, subindo pela Rua João Alves de Oliveira. Era um domingo de sol frio e eu estava encantado com aquela cidade, com aquelas ladeiras cheias de casas. Subimos a rua passo a passo, quase em silêncio, e lá no alto, lá onde ela encontra a Cardoso Vieira, viramos à direita. E foi então que a cidade enorme me envolveu com seu encanto.

Muitos anos depois, quando já morava no jardim paulistano e estudava no Colégio Alfredo Dantas, voltei a travar contato com a rua. É que ali, numa daquelas casas antigas, morava a avó de um amigo meu, companheiro de colégio. Então, vez por outra, eu o acompanhava nas suas visitas à avó. Saíamos da escola ou das aulas de educação física e íamos para a casa dela conversar, comer e matar o tempo.







Recentemente estive mais uma vez por lá. Num domingo desses peguei a minha bike e fui rever a velha e tão diferente rua, matar a saudade e reviver as boas lembranças. Deste passeio, ficaram as fotos desta postagem.

quarta-feira, 25 de março de 2015

A rua Coronel João Lourenço Porto


A rua vista do alto, das janelas do hotel Ouro Branco, hoje Onigrat Hotel


Quando pela primeira vez ouvi falar da rua Coronel João Lourenço Porto, ela se chamava rua da Floresta, ou era assim chamada pelos seus moradores. Isso no final dos anos 1970 e meados dos anos 1980, quando as quadrilhas juninas dos bairros eram a grande atração das festas juninas de Campina. A "rua da Floresta" tinha uma das melhores e mais tradicionais quadrilhas da cidade e fazia uma festa incrível, atraindo um público enorme. Naquela época era comum as quadrilhas de bairro e as festas comunitárias que elas faziam. Eu mesmo rodei por Campina com minha turma do Jardim Paulistano, procurando quadrilhas para assistir e se divertir. E muitas vezes estivemos lá, na Velha João Lourenço Porto, curtindo a animação. O São João tradição de Campina Grande era assim na sua essência, um São João de bairro, comunitário, e a quadrilha da floresta era uma das mais animadas. Ao longo dos anos 1980, porém, o São João de Campina começou a mudar. Entrava em uma nova fase, estava em processo de modernização. Em 1983 o Parque do Povo começava a tomar forma e o São João de Campina, dali em diante, nunca mais seria o mesmo. A quadrilha e a rua da floresta marcaram um ponto de inflexão no nosso São João. Naquela rua e com aquela quadrilha Campina viveu o auge dos velhos festejos juninos, preso às antigas tradições e, paradoxalmente, viu a festa se modernizar e se industrializar. O São João de rua, de quadrilhas de rua e de bairro, ia ficando cada vez mais no passado e na lembrança. E a velha e animada rua nunca mais seria a mesma.












João Lourenço Porto, o patrono da rua, foi prefeito de Campina Grande no início do século XX, entre 1901 e 1904. João era pentaneto de Teodósio de Oliveira Lêdo e foi o antecessor imediato de Cristiano Lauritzen, que governou Campina Grande de 1904 a 1923, um dos mais longevos governos da cidade. Foi na gestão de João Lourenço Porto que Campina Grande ganhou o Cemitério do Monte Santo, o mais antigo e tradicional da cidade. João Lourenço foi ainda Deputado Provincial entre 1878 1879 e Deputado Estadual em duas legislaturas, 1892 e 1896. 











Hoje, a João Lourenço Porto é uma rua moderna, profundamente integrada ao centro comercial de Campina Grande, embora ainda acolha algumas residências, famílias que teimam em não arredar o pé de lá. É uma rua pequena. Começa ali na Praça Clementino Procópio quando ela se encontra com a Vidal de Negreiros e acaba na não menos emblemática e originária rua Vila Nova da Rainha, aquela que viu Campina nascer. No início da rua encontramos logo de cara um dos edifícios que marcaram a história de Campina, o prédio do antigo Hotel Ouro Branco, nome que nos faz lembrar de uma das fases mais ricas e prosperas da cidade, a era de ouro do algodão. No final da rua nos deparamos com a tradicionalíssima feira central, uma das maiores e mais importantes de todo o Nordeste. Andar pela rua é como respirar a história de nossa cidade.






domingo, 22 de março de 2015

Rua Euclides Vilar




A Euclides Vilar é uma pequena e estreita rua localizada no centro comercial de Campina Grande. A rua faz a ligação entre duas outras importantes artérias centrais de Campina, a rua Peregrino de Carvalho, aquela que fica por traz da agência central do supermercado Bompreço (antigo supermercado Balaio, nos anos 1980) e a rua Tavares Cavalcante. Embora ainda existam algumas residências por lá, a rua tem hoje um caráter fortemente comercial. Lá do alto da ladeira que forma a rua, olhando de cima, lá de onde a rua se encontra com a Peregrino de Carvalho, é possível ver uma parte substancial do Alto Branco e admirar o rápido processo de verticalização que toma conta do bairro. No entorno da rua encontramos pontos importantes e referenciais da cidade como a rodoviária velha, a catedral, a feirinha de frutas, a rua Floriano Peixoto e, bem pertinho, a feira central de Campina Grande.




A rua no encontro com a Peregrino de Carvalho










Euclides Vilar foi um poeta e fotografo nascido em Taperoá no dia 8 de maio de 1893. Radicou-se em Campina Grande em meados do Século XX onde exerceu a profissão de fotógrafo, sendo um dos pioneiros na cidade. Além de poeta e escritor, Vilar se destacou por ter lançado, em 1933 e 1934, duas edições do que chamou de "Almanaque de Campina Grande", dois pequenos livros de caráter cultural e literário e com dados sobre a vida comercial e empresarial do município à época. Um registro e tanto. Você pode ler os dois almanaques no Blog Retalhos Históricos de Campina Grande. Deixo os links para acessar os almanaques de 1933 e de 1934. O Euclides Vilar era mesmo uma figura e tanto. Ele morreu em 1953, mas a rua que leva o seu nome está lá, e é um lugar bonito de se ver.