segunda-feira, 29 de abril de 2013

A feira de colecionadores de Campina Grande




Porque as pessoas sentem tanta vontade, tanto desejo em guardar as coisas, em colecionar os mais diferentes objetos? É fato que revistas, selos, figuras, fotos, discos, moedas e até mesmo coisas estranhas ou aparentemente insignificantes como tampinhas de garrafa e pedras se tornam objeto de desejo  dos colecionadores. Mas como explicar essas manias? Como entender o que se passa na mente desses empedernidos guardadores de objetos? Poderíamos imaginar uma série de motivos, dos mais coerentes aos mais esquisitos! Podemos dizer, por exemplo, que o ato de colecionar objetos vem da necessidade e do desejo premente de o homem tentar reter o tempo que corre, escorre entre suas mãos e lhe escapa de maneira inexorável. Assim, guardar coisas seria uma tentativa vã de deter a força do tempo, de um tempo bom, cheio de alegrias e boas lembranças que não voltam mais. A coleção, seja ela de figurinhas, de fotos, de revistas ou de selos, nos ajudaria a reter momentos que marcaram de  forma única e especial as nossas existências, colocando-as em suspenso em nossa memória. Ela nos traz de volta o cheiro e o rosto agradável de pessoas que já não temos, ou que perdemos ou há muito não vemos, os lugares de outrora, os objetos que marcaram as nossas vidas e as diferentes emoções que esses tempos e pessoas despertaram em nós. Afinal, as lembranças devem a sua matéria e a sua essência aos objetos, às coisas e às imagens de que dispomos e que povoam a nossa consciência atual. (1).

As nossas coleções são reflexos da angústia existencial que nos domina, ansiosos que estamos por reter, deter, fazer parar e dominar o que nos é impossível: o tempo, a nossa própria existência. Colecionar coisas "[...] é uma forma de tornar objetivo e material tudo o que tentamos reter na fantasia [...]" (2). Colecionamos, enfim, para afugentar, despistar ou mesmo ludibriar, nem que seja momentaneamente, a ideia de  morte e de finitude que nos persegue. Contra a morte, temos a fantasia. E nossas adoráveis coleções.





Campina Grande também faz parte desse circuito da memória e da fantasia. Há aproximadamente três anos a cidade dispõe de uma feira de colecionadores, amantes das coisas antigas, memorialistas de plantão. A feira ainda é pequena, mas tem de tudo um pouco. Revistas, discos de vinil, filmes, livros, moedas e selos raros podem ser encontrados no pequeno espaço em que a feira acontece. E é um prazer visitar o pequeno mercado, correr os olhos pelas coleções e sentir o tempo fluir por cada objeto em exposição. Um prazer também encontrar e conversar com os colecionadores amadores e profissionais que aparecem por lá para comprar, vender, trocar ou simplesmente apreciar as antiguidades expostas de forma ordeira pelo chão.












A feira acontece todos os sábados pela manhã no coreto central da praça Clementino Procópio, bem no centro de Campina Grande. Começa por volta de nove horas e vai até depois de meio dia. Muito legal. Vale a pena dar uma passadinha por lá sem compromisso algum, a não ser matar a saudade de tempos que não voltam mais. Afinal, a “[...] memória é um cabedal infinito do qual só registramos um fragmento” (3).


Referências:

(1) BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 15ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
(2) TÁVOLA, Artur da. Comunicação é mito: televisão em leitura crítica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 158.
(3) BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 15ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 39.